Faces Fazem Lugares?
Andrea Ebert
Uma oficina desenvolvida ao longo de três sessões onde a gravura, o mapeamento e a troca de palavras fomenta partilhas e disponibilidades aptas a construir perspectivas sobre os lugares que nos rodeiam.
Faces Fazem Lugares?
Vista geral
Andrea Ebert parte da sua tapeçaria Como estar disponível numa biblioteca (2018 -) para convidar os participantes da oficina Faces Fazem Lugares? a abordarem a questão do reconhecimento e familiarização com um espaço determinado.
Ao longo de três sessões e a partir de uma série de actividades propostas pela artista, foi colocado em prática um processo de imaginar certos espaços como se fossem o tabuleiro de um jogo cujas regras e peças podem ser criadas através das percepções e usos que damos aos lugares com os quais interagimos.
Notas de Percurso
Sessão 1
Centro Social de Belém, dia 20 de Novembro 2023
Sentados todos à volta de uma tapeçaria apresentamo-nos e ouvimos a artista contar a história de como criou esta peça de arte.
Palavras e Grelhas
Sessão 2
Centro Social de Belém, dia 22 de Novembro 2023
Regressamos. Há novas faces e também faces que faltam. O espaço está diferente mas ainda está cá a tapeçaria.
Uma grelha convida-nos a repensar as palavras que partilhámos na sessão anterior. Desta vez, voltamos a escolher a que nos ocorreu da primeira vez? Ou preferimos uma palavra proposta por outra pessoa?
Depois, revemos tudo uma vez mais. Levantando-nos um a um e utilizando as nossas vozes e mãos para levar as palavras até à parede - estamos a fazer uma outra grelha. E agora, com estas palavras cá fora e misturadas, o que segue?
Antes de terminar a sessão reunimo-nos em torno de livros da biblioteca de Belém.
Foram encontrados pela Andrea a partir das coordenadas que escolhemos na tapeçaria, quando nos apresentámos na primeira sessão.
Mais títulos são adicionados à coleção de livros que fazem parte das listas de coordenadas recolhidas pela Andrea para aplicar em diferentes bibliotecas. A primeira lista foi a da biblioteca em Gwangju em 2018. Em 2022 houve outra em Guimarães. A de Belém será a terceira? Quantos livros terá esta biblioteca imaginada como forma de acesso?
No final temos folhas grandes com o perfil de cada um.
Pensamos o título da oficina ‘Faces Fazem Lugares?’, que é uma pergunta, a partir do desenho dos nossos perfis:
Cada um, à vez, senta-se para que outro participante possa traçar o seu perfil. Depois trocamos.
Palavras e Grelhas
Sessão 3

Centro Social de Belém, dia 24 de Novembro
Desta vez, ao entrarmos na sala temos várias peças de borracha na forma de caras em perfil empoleiradas nas cadeiras. São os nossos perfis traduzidos em carimbo!
Do outro lado da sala umas formas em feltro. Servirão para quê?
Há toda uma linha de montagem criada para transferir estes perfis para coletes de alta visibilidade amarelos. Todos gravamos os nossos perfis nos coletes que nos correspondem e penduramo-los num cabide, onde ficam a secar. Depois de desmontada a linha de montagem o espaço ficou muito vazio, um mar de carpete.
Com os coletes secos, cada um vestiu o seu e saímos do Centro Social.
Fomos escada acima e num instante chegámos a um pequeno largo ou jardim com umas mesas, umas cadeiras e uns bancos, ladeadas por sebes e canteiros.
Trouxemos também os pedaços de feltro verde e a Andrea convidou-nos novamente a demarcar espaços com o feltro, mas desta vez, aqui, em pleno espaço público.
Será que quem nos vir de fora perceberá que estamos a tecer o nosso próprio lugar público?
Nem sempre nos apercebemos da imagem total que pode surgir de pequenos gestos quando vistos de fora. Talvez seja por isso que a Andrea partilhou connosco a sua experiência de participar na obra da Lygia Pape quando foi apresentada na Praça do Comércio?
As peças de feltro foram-nos entregues e, de uma forma semelhante ao que tínhamos feito com os carimbos nos postais, fomos convidados a demarcar espaços na sala com os pedaços de feltro. Começamos sozinhos mas, a dada altura, as peças de uns começaram a fazer fronteira com as dos outros. Aleatoriamente, criamos um desenho a feltro verde na superfície cinza escura da carpete da sala.
Andrea Ebert
São Paulo, 1970
Artista e ilustradora
Desenvolve trabalho com têxteis, desenhos, vídeos, livros de artista e processos de gravura para produzir resultados visíveis ou palpáveis com os quais as pessoas se envolvem. Estes processos que concebe, e os resultados que produzem, são formas de refletir sobre a sua prática como artista e a sua negociação de acessos às instituições culturais e à vivência na arte contemporânea.
A artista tem também desenvolvido trabalhos com Bibliotecas Escolares em que o desenho é uma ferramenta para dinamizar relações. Em 2022, participou na Bienal Contextile (2022) em Guimarães, onde apresentou uma obra aberta que se renova a partir de interações com a Biblioteca Municipal da região. No mesmo ano, foi também seleccionada como artista residente no âmbito do Plano Nacional das Artes no Agrupamento Ibn Mucana em Cascais.